Francinilda R. de Souza

Relato de experiência no Museu Vivo do Nordeste

Eu tenho 22 anos e destes vivi 8 na zona rural da cidade de Piancó – PB e 4 na zona rural da cidade de Aguiar – PB. Nestes anos iniciais vivenciei com a minha família algumas práticas cotidianos dos sujeitos do campo, tais como: a fabricação de panelas de barro com a minha avó, assim como a queima das mesmas; as formas de se preparar a terra para o plantio do roçado; o plantio do feijão de corda, nome derivado pelo fato de se usarem uma corda para demarcar as distâncias exatas que cada cova deveria ficar; o ato de se moer o milho no moinho manual para transformar o grão em massa própria para o preparo do “bejú” e do “pão” o cuscuz.

Também pude observar o uso do pilão, que no cotidiano rural tem várias utilidades, ou seja, serve desde a produção de massa de arroz para fazer mingau, além de servir para a quebra do milho, para tirar a palha para o munguzá, como forma de descascar o arroz, etc.

Segundo Câmara Cascudo (1954) apud “… o pilão é uma espécie de gral ou almofariz, de madeira rija, como a sucupira, com uma ou duas bocas, e tamanhos vários, desde os pequenos, para pisar temperos, até os grandes, para descascar e triturar o milho, café, arroz, etc.”.

E claro não poderia faltar o fogão a lenha, que me trás lembranças múltiplas da infância na casa do meu avô, seja dos dias frios onde toda a família se reunia em cima do forno para se esquentar, seja na preparação de comidas como: o rubacão, o angú, o doce de leite, a galinha capoeira, entre tantos outros pratos.

Assim, dados esses traços, experiências e valores que fazem parte da minha vida, me senti, de certa forma, em casa, quando aceitei fazer parte do projeto de extensão Museu Vivo do Nordeste e fui apresentada ao mesmo, pois, tudo me pareceu bastante familiar e, na medida em que ia visualizando cada peça, uma lembrança ia sendo trazida a “tona”, ou seja, passei por um processo de rememoração.

Meu ingresso neste projeto se deu no ano de 2010, ou seja, desde que o mesmo foi aprovado como proposta extensionista da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. A priori participei do Museu, como voluntária, e a partir do início do ano de 2011 passei a ser bolsista do mesmo.

A partir da minha entrada neste projeto é que eu passei a ter uma visão mais atenta a tudo aquilo que me cercava e com que ainda hoje mantenho contato. Os saberes cotidianos do homem do campo, as artes de fazer presentes em utensílios e mecanismos de produção, tudo passou a ser mais valorizado, ou melhor, mais admirado. Eu passei a não mais só ver, mas também a enxergar a realidade a minha volta.

Neste sentido, o projeto contribuiu para que as minhas visões sobre a nossa – a minha, cultura fossem ampliadas e assim me tornasse mais uma contribuidora na manutenção e preservação da mesma, haja vista que o projeto trabalha no sentido de que devemos valorizar o que temos para que os conhecimentos de fora também o façam em vez de quererem anularem-no. Nesta perspectiva, também fui colaboradora atuante nas ações desenvolvidas no projeto, haja vista a minha experiência de vida.

Categorias: Tudo | 1 Comentário

Navegação de Posts

Uma opinião sobre “Francinilda R. de Souza

  1. Damião Nóbrega de Albuquerque

    Vendo esse relato eu vejo um pouco de minha nesta escrita pois também passei grande parte de minha vida na zona rural. Eu também tive o prazer de vivenciar os ares desse Museu maravolhoso do professor Adoniran, e nesta convivência eu aprendi a olhar para as peças antigas de uma forma diferente…………….

Deixe um comentário

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.